Para quem não pretenda ser um Robinson Crusoé, vivendo isolado numa qualquer ilha perdida no meio do oceano, mas queira ser parte integrante de uma sociedade deve preocupar-se em se dotar dos conhecimentos necessários para desenvolver comportamentos de civilidade adequados, comportamentos esses que devem começar em casa com a família e estender-se a todas as situações do quotidiano.

Ocupando lugares de visibilidade pública as obrigações são acrescidas. Esta responsabilidade é extensível a quem acompanha as personalidades. Os gabinetes dos detentores de cargos públicos e o Protocolo de Estado devem informar as personalidades e respectivos acompanhantes dos procedimentos protocolares a cumprir nas diferentes cerimónias. No entanto pressupõe-se que existam conhecimentos de educação elementares por parte de quem ascende a estes lugares.

Em Portugal, os pontapés no protocolo têm sido frequentes. Durante a visita dos reis de Espanha ao nosso país, a mulher de uma das principais figuras do Estado foi protagonista de várias gafes. Em dois jantares de gala, a senhora colocou o casaco nas costas da cadeira mostrando desconhecer que aquilo nunca se faz, muito menos numa cerimónia de gala. Durante o hino estava de mãos atrás das costas, postura inadequada naquele momento solene e imprópria para senhoras em qualquer circunstância. Dos seus sapatos era possível vislumbrar o que parecia ser algo como soquetes. Seria muito conveniente a senhora procurar ajuda rapidamente para precaver situações futuras.

Ainda no que diz respeito a acompanhantes, Melania Trump decidiu dar um presente a Michelle Obama durante a cerimónia de posse do marido. Por tradição o presidente cessante e a mulher dão as boas vindas aos novos ocupantes da Casa Branca e a cerimónia da troca de presentes é normal, mas deve ser avisada com antecedência para que seja destacada uma pessoa para ficar responsável pelos objectos. Ora isto não aconteceu e Melania apareceu com o presente para Michelle deixando esta com o embrulho na mão e visível desconforto.

Abstenho-me de abordar as gafes de Trump já que seria uma tarefa exaustiva.

Mas a mulher de Obama também protagonizou uma gafe com a Rainha Isabel II, quando lhe colocou um braço em volta. Para não lhe ficar atrás o marido resolveu dar também um pontapé no protocolo com a monarca fazendo-lhe um brinde no momento em que a banda do Palácio de Buckingham tocava o hino britânico. A situação foi embaraçosa, a rainha e demais convidados mantiveram-se de pé em pose cerimonial a escutar o hino como ditam as regras do protocolo.

Obama foi ainda protagonista de outras situações delicadas. Numa visita à Birmânia, país onde as demonstrações públicas de afecto são censuráveis, abraçou e beijou Aung San Suu kyi, que discretamente tentou desviar-se.

No Japão o ex-presidente norte-americano, cumprindo o protocolo, prestou a vénia Ojigi, cumprimento tradicional japonês, ao imperador Hirohito. No entanto esta forma de cumprimento, dependendo da inclinação, assume diferentes significados. Obama deveria ter feito a Saikeirei, vénia com inclinação de 45º, usada nos primeiros encontros e com pessoas de alto estatuto, mas excedeu-se na inclinação, cerca de 90 graus, executando a Dogeza, normalmente usada como sinal de submissão, rendição ou para pedidos de perdão por faltas muito graves.

Já o primeiro ministro espanhol, Mariano Rajoy, também em visita ao Japão teve uma prestação desastrosa já que se limitou a estender a mão ao chefe de estado nipónico, sem qualquer esboço de vénia. Para além de se tratar de uma gafe protocolar é considerado pelos japoneses um acto de absoluta falta de respeito perante o seu imperador. Embora não tenha sido intencional, revela falta de cuidado na preparação da visita.

Uma deslocação ao estrangeiro de altas individualidades deve sempre ser cuidadosamente preparada. Os responsáveis de protocolo devem fornecer aos participantes todas as informações sobre os procedimentos protocolares a cumprir e costumes locais a respeitar de forma a evitar situações melindrosas.

Mesmo não ocupando lugares de visibilidade pública, quando nos deslocamos a outros países devemos preparar a viagem reunindo o máximo de informação por forma a respeitar os costumes do lugar a visitar.

Como diz o provérbio português “Em Roma, sê romano”

Manuel Pereira de Melo

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