Há uns dias atrás estando a almoçar num conhecido restaurante do Porto pude assistir a um verdadeiro espectáculo circense por parte de um grupo de cerca de 20 pessoas, homens e mulheres, todos na casa dos trintas, todos colegas de uma licenciatura de tradicional prestígio, todos um pouco empertigados.

Os homens foram os primeiros a sentar, todos a um lado da mesa. As mulheres sentaram-se nos lugares sobrantes, naturalmente ao outro lado da mesma mesa. Independentemente do sexo (sim, não disse género), todos sacaram dos seus telemóveis e colocaram em cima de mesa. Fez-me lembrar os filmes de cowboys em que os pistoleiros faziam o mesmo com as armas quando não confiavam nos parceiros de mesa. Esta coisa muito em voga de acrescentar o telemóvel à mesa como se faltasse um qualquer talher, só pode ter o mesmo significado que tinha no tempo do far west, falta de confiança na companhia.

Enquanto aguardavam a chegada dos pratos, cada um dos muitos dedos presentes deslizava desesperadamente pelos ecrãs na tentativa de se anteciparem na revelação de uma qualquer novidade.

Os primeiros comensais a ter o prato na frente começaram sôfregos como se não houvesse amanhã. As bocas escancaradas faziam rodar os pedaços de comida com jeito malabarista enquanto esbaforiam mastigadas palavras. As mãos piruetavam os talheres, qual majorette com seu bastão. Já perto do final das hostilidades foram desembainhados os palitos e a batalha contra os detritos dentários teve lugar.

Será que os homens daquele grupo, ao longo dos seus trintas e tais anos de vida, nunca tiveram a oportunidade de perceber que devem esperar que as senhoras se sentem para o fazer de seguida e que homens e mulheres se devem sentar alternadamente?

Será que ninguém naquele grupo teve o ensejo de compreender que é falta de educação o uso de telemóveis ou quaisquer outros aparelhos quando se está à mesa?

Será que nenhum elemento do grupo teve ocasião de aprender que os talheres devem estar pousados no prato quando não estão a executar as funções para que foram concebidos, que não se fala quando se mastiga, que se mastiga de boca fechada e que em circunstância alguma se palitam os dentes em público, mas apenas na privacidade de uma casa de banho?

O “canudo” não deve servir para ostentações, mas devia ostentar alguma formação pessoal. A universidade não tem a responsabilidade do ensino das boas maneiras, base da civilidade. No entanto quem não tenha a sorte de ter em casa quem ensine, mas tem o discernimento da necessidade de civilizar os seus comportamentos, deve procurar a informação adequada.

Como diz o provérbio “O tempo coloca cada um no seu lugar…Cada rei ou rainha no seu trono, e cada palhaço no seu circo.”

Manuel Pereira de Melo

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