
Recentemente foi-nos solicitada formação em Protocolo Internacional por um conhecido grupo da hotelaria de luxo após terem passado por um momento confrangedor.
À chegada a uma das suas unidades um grupo de japoneses fez a vénia, Ojigi – a forma tradicional de saudar e cumprimentar no Japão. Os vários profissionais presentes na recepção ficaram paralisados, sem saber o que fazer.
Embora não seja a forma de saudar e cumprimentar em Portugal, quem trabalha em turismo ou qualquer actividade que envolva o contacto com interlocutores internacionais deve possuir conhecimentos elementares sobre as diferentes culturas de forma a permitir uma aproximação cultural e assim proporcionar uma experiência mais agradável aos visitantes.
Se todos os hóspedes devem ser alvo de toda a atenção, com japoneses todo o cuidado é pouco já que o povo nipónico é considerado o mais bem-educado do planeta.
Não pretendendo que se saiba executar a Ojigi, em todas as modalidades e regras, que são algo complexas, vale a pena perceber um pouco da sua essência.
A postura é de pés juntos, as mulheres colocando as mãos sobrepostas na frente e os homens nas pernas ou ao seu lado. O movimento da vénia é feito fazendo curvar o corpo a partir dos quadris e mantendo o tronco bem direito.
O grau de inclinação da vénia atribui-lhe diferentes designações, significados e situações a serem aplicadas.
A inclinação de 15 graus toma o nome de “Eshaku” e é usada para situações do quotidiano, tais como saudações, por exemplo, para agradecer ao sair de um restaurante ou para saudar alguém ao longe.
“Keirei”, a vénia com inclinação de 30 graus, é a saudação padrão e emprega-se durante as apresentações e outras formalidades e também para cumprimentar amigos e familiares.
A vénia com inclinação de 45 graus, “Saikeirei”, é a mais cerimoniosa e deve ser usada em primeiros encontros e com pessoas de alto estatuto. Trata-se de uma demonstração de profundo respeito que é também usada para apresentação de desculpas.
Existe ainda uma inclinação de 90 graus, “Dogeza”, normalmente usada para pedidos de perdão por uma falta muito grave como acontece nos pedidos de desculpa públicos por parte de responsáveis em escândalos. É o caso deste deputado que tinha desencadeado um debate nacional sobre a licença de paternidade, mas desistiu depois de admitir ter tido uma relação extra-conjugal quando a sua mulher estava prestes a dar à luz. Em conferência de imprensa pediu desculpa por “causar um tumulto” e renunciou ao seu lugar.
No Japão são raros os casos de envolvimentos de políticos (quatro deputados e um ministro em largas dezenas de anos) em ilegalidades, quase sempre de pouca relevância. No entanto pelo facto de na cultura japonesa a honra ser um valor insofismável que está acima de tudo e de todos, existe o costume de apresentação de desculpas à nação por parte dos prevaricadores.
Esse pedido é acompanhado pela vénia e pode chegar ao ponto de a executarem de joelhos no chão do parlamento em sinal de submissão.
A incapacidade de suportar a vergonha e a intransigência consigo próprios levou a que, quase todos os casos atrás referidos, terminassem em suicídio.
Este cumprimento do Presidente Obama ao Imperador Akihito foi muito polémico no meio diplomático pelo grau de inclinação da vénia, 90 graus. Como foi referido, trata-se de uma vénia para pedido de desculpas que era também usada como demonstração de subserviência perante os imperadores. Tratando-se de dois chefes de estado, encontram-se em igualdade de estatuto, não existindo supremacia de nenhum.
A cultura nipónica é muito complexa e requer uma preparação especial a quem pretenda tratar com interlocutores japoneses. Quem ambicione encetar negociações com organizações nipónicas deve estar preparado para um longo percurso de aprendizagem que frequentemente passa por uma estadia no Japão. Foi o caso de alguns prestigiados gestores, líderes de alguns dos maiores grupos empresariais portugueses que se mudaram para a “Terra do Sol Nascente” durante dois anos, para apreenderem a sua cultura e filosofia.
O sucesso passa pela obtenção de formação pessoal adequada que só o Protocolo garante.
Manuel Pereira de Melo