Em 2006 o Anselmo Mendes propôs-me produzir um rosé. Naquela época não era propriamente um tipo de vinho que apreciasse e transmiti-lho.
Disse-me que o que pretendia fazer era um vinho muito diferente dos rosés muito leves que se encontravam no mercado. O objectivo era produzir um vinho semelhante aos palhetes de outrora, um rosé com taninos bem presentes e muito gastronómico. O perfil traçado agradou-me.
Nesta altura, o Anselmo traz a Patrícia Santos para integrar o projecto e o Primado Rosé viria a ser o primeiro Primado da responsabilidade desta excelente enóloga.
De cor rosa viva revelava no nariz aromas a flor de laranjeira e a frutos maduros. Na boca apresentava-se encorpado, redondo e com taninos equilibrados. Tratava-se de um rosé forte capaz de acompanhar bem pratos que normalmente não estavam destinados a ser associados ao vinho rosé.
Deste Primado Rosé foram produzidas cerca de 6000 garrafas a partir das castas Touriga-Nacional, Tinta-Roriz, Alfrocheiro, Tinta Pinheira e Jaen.
A partir daí a minha perspectiva mudou totalmente e este rosé passou a ser um grande companheiro da mesa.
Embora se produzam algumas garrafas todos os anos para consumo pessoal, apenas em determinados anos é comercializado, caso do 2006, 2010 e 2017.
Na última vindima tivemos a visita de um ilustre visitante. Depois de ter provado o Primado Rosé 2017 que verdadeiramente o surpreendeu pelas suas características gastronómicas e pelo potencial de envelhecimento e tendo visto umas poucas garrafas de Primado Rosé 2006 ficou curioso sobre como teria evoluído.
12 anos após a sua colheita fizemos uma prova do Primado Rosé 2006. Para espanto de quantos estavam presentes e eram muitos, este rosé apresentou-se em notáveis condições. Com boa evolução, os taninos estavam bem presentes, mas limados. Fresco e com uma acidez vibrante revelava ainda notas de fruta.
Foi esta invulgar capacidade de envelhecimento que nos levou a optar por garrafa escura a partir do Primado Rosé 2017.
Deste último pode dizer-se que o vinho se apresenta brilhante e límpido. A cor rosa intensa resulta da obtenção do mosto por sangria após contacto com as películas. Nos aromas de fruta de polpa intensa resultantes da lenta fermentação é possível identificar a uva e a pera, mas o pêssego sobressai por via retro nasal. Na boca sente-se a estrutura e o corpo. Guloso e gordo, este rosé mantêm a sua elegância num longo final de boca proporcionado pela frescura e acidez.
Foram produzidas apenas 3267 garrafas, todas numeradas.
O Primado Rosé é um vinho para a mesa. Capaz de acompanhar pratos fortes de peixe e de carne, nomeadamente grelhados e pratos de forno, há quem o considere o vinho ideal para substituir um tinto no Verão.
Manuel Pereira de Melo