Ultimamente têm sido notícia algumas práticas pouco dignificantes e outras absolutamente aviltantes por parte de titulares de cargos públicos e por parte de altos responsáveis de importantes instituições.
Os detentores de cargos de referência devem ser também uma referência, têm obrigatoriamente que revelar uma conduta absolutamente irrepreensível.
Contra o que seria expectável, uma boa parte daqueles que actualmente ascendem a cargos públicos não possuem sequer uma formação pessoal mínima, muito menos a que deveria ser exigida para o desempenho dessas funções. Muitos terão licenciaturas, pós-licenciaturas, mestrados, doutoramentos, MBA’s, etc., etc., mas a muitos falta a formação que deveria estar na base de todo o conhecimento, as regras de civilidade, os hábitos da cortesia e um código de honra.
Infelizmente no nosso país os maus hábitos não estão circunscritos às ditas “personalidades”.
A sociedade portuguesa está a atravessar uma profundíssima crise de civilidade e o futuro não se perspectiva animador porque quem não sabe para si, muito menos sabe para ensinar.
Alguns problemas não são de agora, são já crónicos como é o caso do incumprimento de compromissos.
O facilitismo está profundamente enraizado na sociedade portuguesa e deixa-se tudo para a última hora, frequentemente para depois. Isto acontece no quotidiano, quer na vida social quer na profissional, com encontros, reuniões e muitos outros compromissos.
Existe um determinado tipo de pessoas que sistematicamente chega depois da hora combinada e alguns fazem-no de forma bastante descontraída. Para esta gente só o seu tempo conta, o dos outros nada vale. Indiferentes à perturbação e prejuízo que possam causar, demonstram total desprezo pelos outros e pelo seu tempo. Este comportamento é revelador de uma falta de educação inadmissível.
Muito associado a este factor está também o do incumprimento de responsabilidades. Cada vez se assiste mais ao protelar de pagamentos, seja por parte de particulares seja pela parte de certas empresas e de alguns comerciantes. Em certos casos, quando confrontados com a necessidade do pagamento agem como se fizessem um favor. Trata-se de uma forma de desonestidade e quem o faz não é credível nem confiável e mais cedo ou mais tarde a sua reputação será atingida.
O cumprimento de horários, de compromissos ou de responsabilidades é uma obrigação não é um favor que se faz. É a regra mais básica da civilidade, o mais elementar sinal de respeito.
Outra manifestação de falta de educação que vem sendo recorrente por parte de algumas pessoas é a não devolução de chamadas recebidas e não atendidas ou a ausência de reposta a mensagens ou mails recebidos.
Manda a boa educação que se responda sempre a uma tentativa de contacto. Se o assunto não for agradável, maior mérito tem aquele que sabe enfrentar e assumir as questões. Quem foge aos temas difíceis ou quem não assume as suas responsabilidades é gente incapaz.
Assiste-se também com frequência a atitudes de sobranceria por parte de quem tem os chamados “pequenos poderes”.
Alguns funcionários de repartições públicas são especialmente arrogantes e gostam de exercer o seu “pequeno poder” para com os utentes que desesperam com uma estrutura absurdamente burocrática.
Alguns agentes económicos também usam o seu “pequeno poder” de cliente para com os profissionais cujo actividade é a promoção e fornecimento de produtos. Demonstram o maior desrespeito fazendo-os esperar ou obrigando-os a voltar repetidas vezes. O facto de se ser cliente não dá o direito de menosprezar quem está a fazer o seu trabalho e deveria ser visto como parceiro ou potencial parceiro, seja ele o gerente ou o vendedor.
Aquela gente que de uma forma ou outra alcançou um determinado patamar económico, mas revela comportamentos pretensiosos ou mesmo prepotentes não consegue esconder a deficiência da sua educação.
Nem toda a gente na sua infância tem acesso a uma educação esmerada, mas alguns, conscientes da necessidade de ter uma imagem pessoal de grande dignidade, procuram adquirir a formação necessária para a alcançar.
Fica aqui a frase de Cervantes que muito aprecio e reproduzo frequentemente
“O sangue herda-se, a virtude adquire-se”.
Manuel Pereira de Melo