Diferenças culturais #3

Iguaria, petisco ou bizarria?

As diferenças culturais manifestam-se em áreas muito diversas, nomeadamente nos hábitos alimentares. Costumes alimentares de outras paragens podem parecer-nos estranhos, mas seguramente que alguns dos nossos o serão também para muita gente por esse mundo fora.

As tripas à moda do Porto ou a tripa enfarinhada, os diversos enchidos que se encontram por todo o país, túbaros ou pratos confeccionados a partir das vísceras e do sangue de alguns animais fazem parte da nossa gastronomia, mas impressionam muita gente.

Alguns costumes gastronómicos de outras culturas podem também criar-nos sensações de estupefação ou repulsa.

Vou referir alguns exemplos e suas particularidades que se podem provar por este belo planeta.

Um prato muito apreciado no Japão é preparado a partir de um peixe, o Fugu ou Baiacu, tido como o segundo vertebrado mais venenoso do planeta, logo depois do Phyllobates terribilis (conhecido como sapo venenoso dourado). Só cozinheiros com uma licença especial e muitos anos de treino estão autorizados a preparar esta iguaria. Esta exigência justifica-se porque, por um lado, a manipulação do peixe é altamente perigosa para o cozinheiro e, por outro, se a limpeza do peixe não for absolutamente precisa, pode tratar-se da última refeição para os comensais. As partes do peixe retiradas pelo cozinheiro, nomeadamente as vísceras, dada a sua perigosidade, são colocadas num recipiente próprio que é selado e entregue às autoridades.

Em alguns países asiáticos, como a Coreia ou a China, a população consome carne de cão, o que parece inadmissível na cultura ocidental. Ainda na China, o escorpião ou o ensopado de genitais de diversos animais são petiscos muito apreciados. Enquanto no Camboja uma das iguarias mais procuradas é a tarântula frita, no Vietname são os morcegos que são consumidos com especial gosto. Nas Filipinas, os embriões de galinhas ou patos parcialmente formados, servidos dentro dos seus próprios ovos ainda quentes, fazem parte da gastronomia nacional. Os insectos são iguarias caras e muito apreciadas na gastronomia tailandesa e na Mongólia a carne de camelo cozida faz parte da alimentação.

As cobras também fazem parte da gastronomia da China, Taiwan, Hong Kong, Índia, vários países de África e até dos Estados Unidos, onde a cascavel frita com molho é muito apreciada. Também nos EUA e em Cuba o jacaré é petisco muito procurado.

O Porquinho-da-índia assado é uma especialidade no Equador e no Peru, onde é prato tradicional da cultura local. No México, a iguaria com o nome de escamoles, consiste em larvas de formiga preparadas com manteiga e ervas aromáticas.

A dieta africana é muito variada e integra animais como a girafa, o crocodilo, a impala entre muitos outros.

A Europa também apresenta uma variada selecção de pratos que podem parecer estranhos para pessoas oriundas de outras culturas.

Pratos que fazem as delícias de muitos são, por exemplo, o escargot, um tipo de caracol muito apreciado em França, a rena na Finlândia, o urso na Rússia e o tubarão que faz parte da alimentação na Islândia.

Alimentos preparados a partir de sangue e de vísceras de vários animais são muito apreciados na América Latina e em diversos países da Europa como França, Irlanda, Grã-Bretanha, Alemanha e obviamente Portugal, onde são inúmeros os exemplos conforme referido atrás.

Ainda na Europa são de relevo duas iguarias famosas, o haggis, prato escocês que é preparado com o coração, pulmões e fígado de ovelhas, cozidos dentro do estômago do próprio animal e o casu marzu, o queijo favorito na Sardenha, que é produzido com leite de ovelha e larvas vivas de mosca adicionadas durante o processo de maturação para provocar um avançado nível de fermentação próximo do estado de decomposição.

A oferta é extensa e difícil a escolha.

Não desejo bom apetite porque não é elegante fazê-lo, desejo boas experiências!

Manuel Pereira de Melo