Viajar torna-nos mais civilizados, educados e felizes

 “O mundo é um livro, e quem não viaja lê apenas uma página” Santo Agostinho.

Independentemente da duração ou do destino, uma viagem é sempre uma experiência enriquecedora. Só o facto de sairmos do “ovo”, em que tudo acontece mais ou menos de acordo com as nossas expectativas e tudo é muito previsível, já é um ganho.

Por mais agradável e privilegiado que seja o meio em que vivemos e nos movemos, os princípios e costumes enraizados tolhem-nos as perspectivas e os horizontes.

O contacto com culturas, premissas e comportamentos diferentes abre-nos outros cenários e apresenta-nos outros enredos. A necessidade de a adaptação ao que é novo, a comunicação com estranhos e lidar com o desconhecido obriga-nos a apurar a sensibilidade e agir de forma mais inteligente, rápida e eficiente. Quanto mais marcadas forem as diferenças culturais, quanto maior for o contacto com o desconhecido, maior é o impacto e melhor a experiência.

O conhecimento e interacção com outros padrões de comportamento estimula-nos a empatia e incute-nos o sentido de compreensão e respeito.

Aprendemos que perante um mesmo facto existem perspectivas muito diferentes de o entender e de lhe reagir.

Viajar proporciona momentos de reflexão e constitui uma excelente oportunidade para repensar a nossa atitude perante a vida.

Há uns anos atrás fui confrontado com a possibilidade de ter uma doença muito complicada. Tive que fazer diversos exames, mas os resultados só estariam disponíveis daí a umas semanas. Estas esperas são sempre angustiantes e em vez de me resguardar no amparo da família e dos amigos resolvi fazer uma viagem sozinho.

Preparei-a de forma a que contemplasse alguns factores que são para mim essenciais numa viagem – contacto com padrões culturais diferentes, ambientes diversos e muita aventura. Um destes dias partilharei aqui a história detalhada desta viagem digna de um filme de aventuras, qual Indiana Jones.

Em três semanas, visitei as várias ilhas de Cabo Verde, fiz um périplo de sonho no Arquipélago dos Bijagós, passei para o Senegal atravessando a província de Casamance, zona interdita nessa época porque estava no auge o conflito armado com os movimentos separatistas, cruzei a Gambia e terminei em Dakar. A maior parte de toda a viagem foi feita pela selva.

Esta viagem, tal como eu esperava, proporcionou-me momentos de profunda reflexão que me trouxeram autoconfiança, determinação e energias renovadas para encarar qualquer veredicto dos exames realizados. Felizmente não se confirmaram os receios iniciais e tudo correu bem.

A nossa história é escrita a partir do que vimos, ouvimos, provamos, sentimos, conhecemos e vivenciamos. Só nós podemos ser o seu autor.

Só ou com companhia, vire a página e escreva outra!

Manuel Pereira de Melo