Ó tempo, volta para trás, traz a elegância perdida

Viajar, mesmo que seja em trabalho, constitui para mim um momento de relaxamento e de prazer.

Quando viajo, mesmo que seja para um local já meu conhecido, sinto-me sempre expectante pelas surpresas que o desenrolar da viagem eventualmente me possa proporcionar. No entanto, de algum tempo para cá as surpresas têm começado logo no aeroporto e nos aviões e não pelas melhores razões.

Nos últimos anos assistiu-se a um gigantesco aumento do número de pessoas a usar o avião. Infelizmente este aumento arrastou outro, o da falta de elegância nestes meios.

Algumas pessoas vão para o aeroporto como se fossem directamente para a praia. Apresentam-se de fato de treino (próprio apenas para fazer desporto), chinelo de praia (próprio apenas para a praia), calça do tipo palhaço ou t-shirt caveada (impróprio seja para o que for), entre outras indumentárias mais ou menos ridículas.

As próprias companhias aéreas, principalmente as low cost, têm vindo a adaptar o seu discurso a este ambiente de “descontração”, leia-se deselegância. Dirigem-se aos passageiros sem qualquer esmero, tentando um humor barato como se fossemos todos dementes.

Todo o processo que envolve viajar de avião, seja ainda em terra, seja já a bordo, implica a partilha de espaços relativamente exíguos com um número significativo de pessoas. Trata-se assim de uma situação que requer uma grande noção das regras de convivência social.

Recordo aqui alguns comportamentos desejáveis para quem viaja de avião.

Quando um grupo vai viajar, apenas um elemento vai fazer o check in. Não se criam ajuntamentos perto do balcão. No caso de uma família, o homem deve ser quem trata desta tarefa porque pode ser necessário pegar em malas. Os outros membros da família aguardam fora da zona de check in. Uma eventual excitação deve ser controlada independentemente do número de pessoas do grupo.

No que diz respeito à marcação de lugares e independentemente das preferências pessoais, sempre que possível devem evitar-se lugares junto das casas de banho, na zona de saídas de emergência e em cima das asas, estes últimos impedem a vista e em alguns casos são lugares mais ruidosos por causa dos motores.

Na zona de embarque deve esperar-se sentado.  Aguarda-se tranquilamente que se inicie o embarque deixando que a fila para apresentação da identificação e do cartão de embarque reduza até 2 ou 3 pessoas. Ultimamente tem-se vindo a assistir à formação de enormes filas por vezes muito antes da hora de embarque. Sendo os lugares marcados não existe qualquer razão para que os passageiros esperem em pé, uns atrás dos outros como se estivessem nas filas para o pão de algum país em crise.

À semelhança do que acontece em qualquer escada, na subida para o avião, a senhora segue na frente.

A bagagem de mão deve ser colocada apenas nos compartimentos próprios. Um livro, jornal ou computador podem ser deixados de fora para uso durante a viagem desde que o seu manuseamento não interfira com outros passageiros.

Quanto aos lugares, sempre que possível as senhoras devem ficar junto da janela. Se este lugar tiver sido marcado por outro passageiro e a fila for de 3 lugares, então fica o homem no meio e a senhora junto ao corredor.

No lugar, cada passageiro tem que limitar-se apenas ao seu espaço. Não pode em circunstância alguma perturbar qualquer outro passageiro seja com objectos, com o seu corpo ou com ruídos de aparelhos, falando alto ou ressonando.

No avião, os passageiros apenas se levantam para ir à casa de banho, todo o resto do tempo devem estar sentados. Algumas pessoas, que não sabendo como comportar-se dentro de um avião, ficam em pé no corredor, dificultando a tarefa do pessoal de cabine e incomodando os outros passageiros, por vezes até encostando-se à cadeira de outro passageiro.

Quando o avião se prepara para aterrar, o comandante dá instruções para que se endireitem as costas das cadeiras. Ainda assim há sempre alguns que acham que não são abrangidos pela ordem e teimam em manter-se com as costas reclinadas só alterando a postura depois do pessoal de cabine reforçar a ordem. Trata-se de uma demostração de falta conhecimento dos procedimentos a bordo de um avião, falta de respeito pela tripulação e pelos outros passageiros, principalmente pelo que se encontra atrás de si já que lhe limita o espaço.

Na saída do avião deve saudar-se os membros da tripulação que ali se encontrarem.

Como em qualquer escada, também nas escadas do avião o homem desce na frente.

Na espera pelas malas não é necessário estar “em cima” dos tapetes. As pessoas devem colocar-se a cerca de 2 metros do tapete criando assim uma zona disponível para que todos possam ir recolher a sua bagagem sem apertos. Após a recolha de cada mala, volta-se ao lugar deixando livre a referida zona de recolha.

Viajar é a forma mais agradável de alguém se instruir. Esta busca de instrução deve começar já nos preparativos da viagem, procurando-se saber como comportar nas diferentes situações que a viagem envolve.

Viajar também pode ser feito com elegância, mas é preciso querer saber fazê-lo.

Manuel Pereira de Melo

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