Brindar, tocar ou não, eis a questão?

O ritual do brinde tem como propósito celebrar e compartilhar um momento especial. Trata-se de uma tradição cujas origens não são bem claras. Alguns textos indicam que remonta à antiguidade, à Grécia e Roma Antigas quando eram frequentes as tentativas de assassínio por envenenamento.

Durante as cerimónias o anfitrião para mostrar que a bebida servida era segura, vertia para o seu copo algumas gotas do copo de um seu convidado, ambos tocavam os copos como sinal de confiança e bebiam.

Outras fontes indicam que o brinde terá origem numa longa e complexa história de envenenamentos ocorridos na corte de Luís XV.  Em virtude do ambiente de suspeita que pairava criou-se o cerimonial do brinde que consistia em fixar o olhar nos olhos de quem servia e bater os copos de estanho com força de forma a provocar uma transferência de gotas do líquido de um copo para outro e esperar que o outro bebesse.

O voto de “saúde” proferido nestas situações parece estar igualmente relacionada com estas origens e tendo em conta os receios que levavam ao ritual percebe-se bem o seu sentido.

Actualmente quem propõe o brinde levanta-se, faz uma curta introdução fazendo referência ao homenageado e ao motivo do brinde.

Deve ser o anfitrião o primeiro a falar. Depois deste, poderá falar o amigo mais importante e só então fala o convidado de honra. Quem pretender manifestar-se em relação ao homenageado poderá fazê-lo de seguida.

Após a sobremesa, se o anfitrião não tomar a iniciativa, qualquer um se pode dirigir ao anfitrião pedindo licença para solicitar a atenção dos convidados, fazer um discurso e propor um brinde. Quem toma a iniciativa deve certificar-se que todos os copos estão servidos. A prática por vezes vista de bater com um talher no copo para chamar a atenção de todos não é própria nem elegante.  A expressão “tchim-tchim” para anunciar o brinde é igualmente deselegante e a semelhante “tim-tim” (mais comum no Brasil) nunca pode ser proferida junto a japoneses porque se trata de um palavrão.

Quem discursar deve manter o contacto visual com todos os convidados. Pedindo a todos para ficarem de pé também, levanta o copo na direcção do homenageado. Os copos apenas poderão ser erguidos até duas vezes consecutivas, uma primeira na direcção de quem propõe o brinde dando assentimento à homenagem, a segunda na direcção de quem é homenageado, no caso de estar presente.

O hábito de tocar os copos ainda é frequente nos dias de hoje. No entanto, quando muito, cada convidado pode tocar levemente o copo de quem está à sua direita e à sua esquerda. O acto de debruçar sobre a mesa ou de fazer passar o copo pela frente ou por trás de outras pessoas para tocar copos é totalmente desadequado.

Nas cerimónias íntimas não há lugar ao convite a que as restantes pessoas se levantem, podendo todos os outros permanecer sentados. Neste caso, terminado o discurso do brinde, as pessoas apenas erguem o copo antes de beber.

Ao beber deve sorver-se apenas um pouco, nunca se esvazia o copo. Pousar o copo sem beber é uma demonstração de desconsideração e uma grande descortesia. As pessoas que não bebem devem simular.

Tradicionalmente o brinde é feito com bebida alcoólica, mas quem não ingere este tipo de bebidas pode fazê-lo com outra bebida. O que é considerado uma grosseria é brindar de copo vazio.

Os discursos devem ser breves e bem-humorados. Temas desagradáveis devem ser totalmente evitados. Em restaurantes abertos ao público, as palavras devem ser apenas de saudação.

A pessoa, casal ou grupo de pessoas homenageados não se levantam nem bebem enquanto as restantes o fazem em sua honra. Depois de dar tempo a quem quiser manifestar-se, os homenageados ou apenas um deles falando em nome dos restantes pode pôr-se de pé e agradecer com breves palavras. Sendo homenageada uma pessoa de muita idade, a esta bastará um gesto seu como inclinar a cabeça na direção de quem a saudou e dos que responderam ao brinde em ambos os lados da mesa para agradecer em cada uma das manifestações.

O brinde é sempre feito em honra da pessoa e nunca dos factos que levam à homenagem. Num evento, não se repete um brinde à mesma pessoa por motivos idênticos, apenas se tiver sido esquecido algo muito relevante no primeiro brinde. Podem seguir-se outros discursos e no fim o orador inicia o aplauso.

Manuel Pereira de Melo