… no mundo das danças.
Desde muito novo eram evidentes as minhas tendências namoradeiras. Naturalmente preocupava-me em arranjar forma de me destacar da concorrência. Percebia-se que tinha bastante jeito para a dança e resolvi procurar ajuda para aperfeiçoar os meus dotes e assim poder impressionar.
Fui às Páginas Amarelas (lembram-se?) procurar escolas de dança.
Com anúncios destacados apareciam as escolas de dança clássica (ballet) que não correspondiam ao que me interessava. Lá pelo meio, sem destaque, apenas com discretas referências ao ensino de dança, encontrei duas escolas que pareciam corresponder ao que procurava. Coincidentemente as duas situavam-se na Rua do Almada.
Actualmente a Rua do Almada partilha da muita da animação que acontece na baixa do Porto. Naquela época, final dos anos 70, a “animação” daquela rua era bem diferente. Entre lojas de ferragens ponteavam umas figuras que pareciam saídas da paleta de um qualquer pintor e que se ofereciam para “animar” os homens que passavam.
Encontradas as moradas, deparei com prédios antigos e decadentes, como eram quase todos naquela rua, à época. Uma vez no interior do primeiro prédio o meu olfacto foi agredido com uma mistura de cheiro a comida, de perfumes baratos e do líquido que transporta os produtos residuais do nosso metabolismo. Apesar da sensação de agonia a minha determinação em encontrar quem me ajudasse a brilhar era tal que prossegui a escalada até ao andar respectivo.
Chegado toquei à campainha e quando a porta se abriu e surgiu um voluptuoso, boçal e colorido vulto percebi rapidamente que ali teria muito a aprender para além da improvável dança. Apenas com um “desculpe, foi engano” corri escada abaixo e já nem tentei a segunda morada que seguramente seria de uma “colega”.
Manuel Pereira de Melo
